Palestra 01

Resumo:

A DOCÊNCIA NA HERMENÊUTICA DA ALTERIDADE

TREVISAN, Amarildo Luiz

A cultura hermenêutica protagoniza um conhecimento diferente do saber utilitarista, que somente vê o outro como meio ou trampolim para a assunção ao lugar desejado. No momento em que esse deixa de ser importante para seu objetivo, ela volta a operar no solipsismo da agenda preocupada apenas consigo mesma. É por isso que no áspero diálogo com Édipo, Tirésias lamenta o quanto é terrível a sabedoria, quando quem sabe não pode dela aproveitar-se. A hermenêutica apresenta-se, desse modo, não enquanto saber imediato, que resolve problemas da ordem prática da existência unicamente. Mas o seu alcance pode causar uma reviravolta muito grande, ao tornar próximo o que está distante no tempo. Provocando uma mudança na compreensão, ela produz uma virada de paradigma, que pode afetar o modo como passamos a avaliar todas as questões.Tirésias, Édipo, Jocasta, Medusa, Perseu e Pégaso são figuras hermenêuticas da tradição clássica que permitem a dialética do olhar que confronta sem perder a empatia. São imagens da tradição que contemplam os dois lados de uma mesma moeda. Elas admitem repensar a dimensão do  outro, o quanto se atribui de importância ou não à sua cultura, inspirada no impulso paralisante ou então de reconhecimento de sua experiência criadora de mundos. Nessa compreensão do problema, a cultura demonstra possuir uma fonte inesgotável de entendimento comum das diversas formas de vida, enquanto identidade que aproxima da idéia de pertença a uma mesma humanidade. Ao mesmo tempo, essa situação não pode servir de ameaça à existência de múltiplas culturas, mas é sua condição, pois elas podem se reconhecer enquanto tal na abertura do diálogo com o outro, tendo aí um referencial preservado que mantém o necessário distanciamento. O conhecimento das outras culturas torna-nos, pois, conscientes da singularidade da nossa própria cultura, mas também da existência de um patrimônio comum ao conjunto da humanidade. Há uma realidade complexa, uma diversidade humana e uma prática pedagógica a ser repensada. É imprescindível, portanto, o reconhecimento de nossos limites, mas também de nossas possibilidades, utopias e distopias. Dentre as várias limitações presentes no processo educativo, que precisam ser superadas, encontram-se a afabilidade e a alegria com o outro por suas diferenças. Por isso é necessária uma reflexão conjunta sobre a práxis dos educadores comprometidos com as relações e a inclusão solidária. Inclusão que inicia com o olhar que comunica algo, com o sorriso que aproxima e acaricia, mas, principalmente com o poder da linguagem que abraça e impulsiona a saltar sobre abismos e a voar.

Palavras-Chave: Docência. Hermenêutica. Alteridade.

  1. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, da UFSM e Pesquisador do CNPq. E-mail: trevisanamarildo@gmail.com